Mercado voluntário de carbono a patrocinar eucaliptais? ‼️
- Milvoz - APCN
- há 10 minutos
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O que temíamos está prestes a acontecer: o mercado voluntário de carbono em Portugal, atualmente em fase de criação, corre sério risco de ser totalmente capturado pela promoção da monocultura de eucalipto — sem limites!

A primeira metodologia proposta para certificar créditos de carbono em Portugal, atualmente em consulta pública, não resolve os problemas estruturais da floresta e pode agravar os complexos desafios que afetam os territórios rurais. Em vez de promover a regeneração ecológica e a multifuncionalidade do território, a proposta favorece modelos intensivos de exploração florestal — os mesmos que têm contribuído para a degradação do interior e para a perda de biodiversidade.
No âmbito desta consulta pública, vimos expressar a nossa preocupação, pois esta metodologia falha em alinhar-se com os objetivos nacionais e ignora lições aprendidas com projetos semelhantes noutros países. Destacamos quatro pontos críticos:
1. Permissividade no uso de monoculturas exóticas sem necessidade desse rendimento
Permite-se, sem restrições claras, a plantação de espécies exóticas em monocultura para créditos de carbono. Esta abordagem ignora evidências de que estas plantações têm causado graves impactos ecológicos e sociais — como já se verificou no Brasil, Chile, Uruguai e África do Sul —, levando a grandes escândalos que comprometeram a própria credibilidade destes mecanismos.
Standards internacionais, como o Gold Standard, adaptaram as suas metodologias e introduziram critérios mais rigorosos para evitar a aprovação de sistemas baseados em monoculturas de crescimento rápido, nomeadamente com espécies exóticas como o eucalipto.
2. Critérios de permanência incoerentes e permissivos
A proposta permite o corte de madeira durante o período de permanência (30 anos), desde que haja replantação. Isto desvirtua o conceito de “permanência”, essencial à credibilidade dos créditos de carbono. Standards internacionais reconhecidos, como o Plan Vivo ou o Gold Standard, não permitem este tipo de exploração.
É importante lembrar que apenas um conjunto restrito de espécies, como o eucalipto, se adequa a ciclos de corte dentro deste período — o que revela a verdadeira intenção da metodologia: reforçar o atual modelo florestal assente em monoculturas rápidas, ignorando os seus impactos cumulativos no empobrecimento dos solos e na sustentabilidade a longo prazo.
3. Desvalorização da complexidade ecológica e dos co-benefícios
Não há qualquer incentivo ao uso de espécies autóctones, nem à promoção de sistemas (agro)florestais complexos. O sub-bosque é excluído dos cálculos de carbono.
Em vez disso, a proposta reforça a ideia de “florestas limpas e bem geridas”, perpetuando monoculturas rápidas com baixos benefícios ecológicos e sociais, monotonizando ainda mais o território rural.
4. Desalinhamento com políticas nacionais e europeias
A proposta contraria compromissos assumidos por Portugal no Pacto Ecológico Europeu, na Lei Europeia da Restauração da Natureza e na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade. Ignora os objetivos de diversificar a floresta e reduzir a dependência de monoculturas, ameaçando fazer exatamente o contrário.
Este instrumento, que deveria ser uma oportunidade para regenerar a floresta portuguesa, pode acabar por cristalizar modelos insustentáveis e hipotecar o futuro ecológico do país.
👉 É fundamental partilhar e participar nesta consulta pública! Temos menos de 15 dias para agir! https://participa.pt/pt/consulta/metodologia-de-carbono-sobre-novas-florestacoes-mercado-voluntario-de-carbono
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