Bio-Reserva Vale da Aveleira
A Bio-Reserva Integral do Vale da Aveleira, localizada na Serra da Lousã, ocupa um lugar especial entre as diversas Bio-Reservas da Milvoz, não apenas por ser a que apresenta uma maior área (cerca de 70 hectares), mas também porque contém um leque de valores naturais únicos do ponto de vista da sua preservação, relevantes à escala nacional e mesmo internacional. Trata-se de um conjunto de cinco vales íngremes e de difícil acesso, sobre solos xistosos, que desde há várias décadas não têm sofrido presença ou impacto humanos, bem como têm estado a salvo dos sucessivos incêndios que assolaram a região em épocas recentes. É uma área composta por florestas antigas, compreendendo habitats muito variados, alguns de carácter mais húmido e atlântico nos vales encaixados, e outros mais secos e mediterrânicos nas zonas mais elevadas e nas cristas rochosas.
A variedade de espécies faunísticas e florísticas é enorme, bem como de fungos, líquenes e musgos. De destacar a existência de soutos com várias dezenas de árvores centenárias, medronhais climácicos e bosques reliquiais de azereiros. Está também presente a azinheira, o carvalho-alvarinho, o azevinho, a cerejeira-brava, o aderno e, como não podia deixar de ser várias aveleiras, por entre uma imensidade de outras plantas nativas. Do ponto de vista faunístico, constitui um refúgio privilegiado para espécies emblemáticas da fauna portuguesa, designadamente aves florestais, mesocarnívoros e ungulados, bem como répteis e anfíbios, sendo de assinalar a presença de vários endemismos ibéricos. Pode ser destacada a ocorrência de espécies icónicas como o veado-vermelho, o corço, a águia-cobreira, o melro-d’água, a salamandra-lusitânica, o lagarto-d’água ou a víbora-cornuda. Um extenso leque de outros seres vivos prospera neste espaço protegido, muitos deles ainda por inventariar, mas nem por isso menos importantes e característicos desta amostra rara de um bosque nativo centenário e em notável estado de conservação.
Ao longo dos vales, desenvolvem-se diversos ribeiros cujo caudal depende bastante da pluviosidade, desaguando todos na Ribeira Maior, curso de águas permanentes e turbulentas, que esculpiram ao longo de séculos canhões rochosos e alcantilados, onde abundam rápidos e cascatas. Face à importância dos habitats que neles se estabelecem, a Milvoz decidiu constituir esta área como 'Bio-Reserva Integral' por ser totalmente aplicável o conceito previsto na legislação que regulamenta as reservas integrais das áreas protegidas públicas, designadamente: "As reservas integrais são espaços que têm por objetivo a manutenção dos processos naturais em estado imperturbável e a preservação de exemplos ecologicamente representativos num estado dinâmico e evolutivo e em que a presença humana só é admitida por razões de investigação científica ou monitorização ambiental" (Dec. Lei 19/93).
No entanto, e de modo a permitir o conhecimento e usufruto deste reduto de beleza paisagística e biodiversidade aos visitantes, a Milvoz tem em curso o desenvolvimento de meios áudio-visuais, bem como a criação de dois percursos nas zonas limítrofes da Bio-Reserva que permitam, não apenas a sua observação a partir do exterior, mas também o contacto direto com espaços que constituem uma excelente amostra dos valores naturais existentes no seu interior. ​
Perante esta riqueza de vida e o seu notável estado de conservação, a Milvoz desenvolve a gestão ambiental destes habitats de modo a garantir a preservação da floresta autóctone existente, a manutenção da sua identidade paisagística e a salvaguarda de toda a biodiversidade dela dependente. O controlo de espécies vegetais invasoras nas zonas adjacentes, constitui uma prioridade de ação sobre aquela que é a maior ameaça à conservação dos valores naturais existentes. Desde Agosto de 2022 que a Milvoz é comodatária desta área natural, pelo período de 30 anos, através de contrato estabelecido com os proprietários dos terrenos e cujo objetivo foi exatamente o de garantir a sua preservação, acompanhamento e gestão ambiental.